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Não seja uma empresa “42”

Vivemos um momento onde o que não faltam são filosofias solucionais, metodologias de estratégias bem intencionadas para criar inovação e vencer desafios.

Nenhuma delas é ruim, mas há um grande vício nos ouvidos que as contratam: eles entendem que se as contratam, tomaram a decisão de adotar estratégias centradas no humano, este simples fato, esta simples decisão, já os tornam empresas centradas no humano. A mentalidade se torna a estratégia, a estratégia se torna a execução – o caminho é esse: o meio se torna o fim.

Quando Douglas Adams, na minha modesta opinião, um dos melhores escritores do século passado, escreveu “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, ele trouxe uma passagem muito interessante que ele jamais poderia imaginar – ou, sendo ele, podia sim – que um dia estaria sendo usada com respaldo para teorias corporativas.

Na obra, Adams retrata um planeta super desenvolvido que constrói um imenso computador para calcular enfim a resposta para “a vida, o universo e tudo mais”.

Passam-se alguns milhões de anos até que o computador consiga processar toda informação que precisa e, milhões de anos depois, lá está a civilização ansiosa pelo dia da resposta.

Ao que o computador responde: a resposta para a vida, o universo e tudo mais, é 42.

“QUARENTA E DOIS?” – indagam os membros da civilização após gerações e gerações esperarem pelo cálculo da resposta. “O QUE ISSO SIGNIFICA?”

Calmamente, o computador então responde: “a resposta é essa. Agora vocês precisam entender bem a pergunta. Quando encontrarem a pergunta exata, 42 fará sentido. Mas eu não tenho tecnologia suficiente para calcular a pergunta, precisam de um maior “. – ou algo assim.

O fato é que embora seja um livro de humor, essa passagem de O Guia do Mochileiro traz uma das maiores verdades da história: não se trata de respostas.

Você já deve estar cansado de ouvir a frase “não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas”, de Einstein. É um dos grandes clichês da humanidade atual, sobretudo em ambientes corporativos.

Claro, não é porque é um clichê que está errado, mas talvez por ser um clichê a gente nunca presta muita atenção no verdadeiro significado, ou em significados mais aprofundados.

O DESIGN COMO LOCOMOTIVA, A PERGUNTA COMO MOTOR A AÇÃO COMO COMBUSTÍVEL

Pense nisso: human-centered design, question-focused thinking e action-based strategy.

Você deve estar pensando, tá, mas o design, sozinho, já é tudo isso!

É e não é. O design que acreditamos aqui, é o pensamento design, é o pensamento solucinal. Claro que não existe pensamento solucional sem focar no usuário, no humano.

Mas as pessoas enxergam design de diversas formas. Em uma escala, partem do design como estilo, depois como processo, depois como inovação, depois como estratégia e por fim como filosofia.

Em um mundo ideal onde o design já se tornou a cultura, a filosofia de uma empresa, é preciso que as ações também consigam dar andamento à cultura: no caso À PRÓPRIA cultura do design, uma vez que cada vez estamos acostumados a tomar o meio pelo fim.

Desta forma, faz sentido, cada vez mais, propor que a filosofia seja executável e executada SEMPRE.

Ao ouvir “devemos colocar o ser humano no centro das decisões”, as empresas correram diretamente para as soluções mais plásticas, mais materiais, e o discurso reverberou, mais uma vez, apenas na superfície do desafio.

Legal!, temos que pensar no usuário. Vamos imaginar uma persona. Existe algum persona-maker de graça na internet?”

E assim a gente transforma toda uma base de mentalidade na estratégia em si, e o pior, em uma estratégia errada.

Quando surgiram aparelhos como o Design Thinking, o UX, o Human-centered design, dentre vários outros, eles surgem exclusivamente a partir dessa perspectiva, uma mentalidade que pode parecer comum para muitos, mas que, na prática, é absolutamente ignorada pela grande maioria das empresas e projetos.

Essa perspectiva é a que nos diz: TODAS AS RESPOSTAS JÁ EXISTEM no mercado, elas só dependem de quais perguntas você está falando. Para quem você está fazendo e como está lidando com que escuta.

Não adianta saber onde a resposta está e não perguntar. Não adianta perguntar as perguntas erradas para as pessoas erradas, e não adianta achar que pergunta sem análise e ação é a resposta em si.

A base do pensamento corporativo (e talvez além) de hoje, deve sim ser o Human-centered design, porém dentro de um tripé:

Human-centered design, question-focused thinking e action-based strategy.

É preciso entender que o campo é o humano, sobretudo QUAL deles. É preciso saber o que extrair e é preciso saber agir com o extraído.

O que vejo são inúmeras empresas estampando seus “42” com letras garrafais, em neon, na fachada, mas sem saber exatamente de onde veio a resposta, ou o que ela de fato significa, uma vez que não possuem a menor ideia do que foi perguntado.

É também comum enxergarmos pessoas oferecendo diversos “42” prontos para serem lindamente engavetados em alguma nuvem das respostas sem porquês que aquecem os corações de CEOs mas na prática trazem zero resultados para a marca como um todo.

Troque 42 por HQA.

É o que fizemos e fazemos por aqui.

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