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Você é um entertainer?

Dia após dia, nossos clientes nos procuram com uma dúvida cada vez mais frequente: como perder a vergonha de aparecer nos stories, nos reels, nas postagens? Como conseguir deixar de lado a inibição e começar a dançar os challenges da moda? Como viralizar?

O discurso é sempre esse: pessoas que fizeram enormes sucessos na internet não através de seus negócios mas sim através do entretenimento que proporcionou para o seu negócio.

A pergunta que eu sempre faço é: será mesmo?

Já dissemos aqui que um negócio é feito de pelo menos três partes de valor equivalente: a entrega, a administração e as vendas, ou seja, o corebusiness que o negócio se propõe a entregar, a venda desse corebusiness e a administração do corebusiness + vendas.

Nessa área ampla e genérica chamada aqui de “vendas”, incluímos o marketing, o relacionamento, a publicidade, o comercial, etc e para muitos, talvez seja aí que se encaixa a dancinha, como marketing.

Só que a dancinha é um negócio em si!

Entendam, existe cinco tipos de coisas sendo vendidas nesse momento em qualquer lugar do mundo onde exista algo sendo vendido: produto, serviço, estilo de vida, entretenimento e infoprodutos.

Qualquer pessoa que tem um negócio vende uma ou mais destas cinco opções. A questão é: se você começou uma empresa de decoração, o seu negócio é SERVIÇO. Mas agora você precisa viralizar, correto? Então seu negócio já é serviço AND entretenimento. Se você começou uma loja de pão-de-queijo, seu corebusiness é PRODUTO, mas se você quer ser o mestre dos reels do pão-de-queijo no Instagram, seu negócio é produto AND entretenimento. Percebem? Já têm dois trabalhos pra um só resultado!

É toda uma outra dinâmica, processos, expertise, etc. É outro negócio. A dancinha da viralização, ela tem que ser produzida, divulgada e administrada, assim como o serviço de decoração, assim como o pão-de-queijo, assim como qualquer outro corebusiness.

Isso vem matando o empreendedor, primeiro pois é exaustivo e segundo pois nem todo mundo é um entertainer.

Veja, quando temos uma empresa grande e estruturada, existem pessoas diferentes em setores diferentes ocupando processos diferentes e peculiares do negócio, e isso é ótimo, mas é óbvio que essa não é a maior parte do cenário atual.

Para quem está começando, isso é massacrante.

Se antes a gente tinha os defensores da “mão invisível da economia” como se fosse um entidade divina, há quem defenda hoje a mão invisível do algoritmo, uma espécie de neo-deus pós-moderno da era pós-digital.

Eu e o Zuck, aprontando altas aventuras na algorolândia

Se o algoritmo diz dance, você dança.

Se o algoritmo diz jogue um balde de água gelada sobre sua cabeça, você joga.

Dance, monkey, dance!

É uma situação desesperadora para todas as indústrias, sobretudo a do entretenimento: o artista sem like é um artista sem nada. E em um mundo onde todo mundo é entertainer, o que é o entertainer?

Se Shakespeare não dançasse, talvez poderia escrever suas peças hoje em dia que, sem um grande engajamento nas redes, possivelmente ninguém viria a conhecê-lo.

Veja bem, não sou contra a ideia de um mundo menos formal, não acho que ninguém se torna menos sério ao fazer uma dança ou o que seja, não acho que ninguém também perde a credibilidade por isso. O que eu acho é que NINGUÉM DEVERIA SENTIR-SE OBRIGADO A FAZÊ-LO. Empreendedorismo é um chamado que nem sempre vem junto com o chamado da arte.

Só que existe também um mercado imenso de pessoas que só o que fazem vender são formas de você acreditar que precisa ser um entertainer. Que você precisa se desinibir. Que você precisa aprender a aparecer mais. Que não existe empresa que vende sem o dono mostrar a cara nos stories – sendo que dá pra contar nos dedos quantas vezes o Zuckerberg apareceu no Facebook…ops… Meta.

É uma indústria em cima da outra pra conseguir só uma coisa: exaurir até a última gosta de suor do empreendedor. Quem alimenta tudo isso é você, do Zuckerberg ao guru do marketing digital. Quem alimenta tudo isso é o seu sonho.

O que eu quero frisar com esse artigo, na verdade, é que eu entendo sim, as vantagens de um mundo onde temos outras possibilidades senão somente a elitista e caríssima mídia tradicional para impactar e possibilitar negócios, mas que é preciso lembrar SEMPRE que nada é uma única alternativa.

A ideia que temos hoje, é que o Instagram sustenta o empreendedorismo. Quantos e quantos clientes não me procuram perguntando como serão suas postagens antes mesmo de saber como será a sua loja, a sua produção, os seus processos, pessoas, etc. Muitos ainda não sabem nem o nome que terão!

Há uma falsa ideia de naturalização dessa loucura toda quando sim, é só uma fase. Não importa quanto tempo ela vá durar, é só uma fase.

A fase dos publicitários Madman, do alto de seus prédios, cocktails e piadas de mau gosto, durou décadas, mas passou.

Um negócio pode ser entretenimento. Pode trazer entretenimento. Pode sim.
Porém ele não tem obrigatoriamente que ser, que trazer. Há muito mais em jogo do que isso. Um negócio envolve o corebusiness, a venda e a administração. As resdes são só uma pequena parte disso; uma pequena parte que na verdade é o corebusiness de muita gente tentando vender pra você a ideia de que elas são uma parte muito maior do que realmente são.

Pouquíssimas pessoas vão se dispor a comprar seu sapato só pelo fato de que você dança bem: os Reels têm menos de um ano. Eles não podem ter esse controle sobre sua vida.

Dance sempre que quiser, mas saiba que é possível parar.

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