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Estudo de caso 10: a netflix dos streamings

“TUDÚ” – com essa onomatopeia a gente começa o estudo de hoje da mesma forma que a abertura dos originais da Netflix, a ex-locadora que desbancou as locadoras.

A onomatopeia não é das melhores, mas você consegue ouvir o som na sua cabeça.

Com uma dívida de 13,5 bilhões de dólares e ainda sem saber exatamente como vai pagar, a plataforma de streaming mais popular do mundo vai além de uma empresa, é uma indústria em si, tão popular e inovadora em sua proposta, que criou uma imensa legião de concorrentes:

Todos eles com o apelido de “Netflix de algumacoisa”

EXATAMENTE O QUE VOCÊ QUER

Sabe porque é tão difícil escolher um filme na Netflix? Porque ela é feito para você. Com um catálogo de mais de 76 mil categorias, todas elas, de certa forma, direcionando ao que

exatamente você prefere, é comum que você fique na dúvida: escolher é sempre um martírio, mas isso não é ruim para a proposta da empresa, muito pelo contrário, é o que garante seu sucesso.

A modalidade do negócio Netflix obriga a oferta ilimitada de novidades, mas para tentar garantir que não se torne sempre um desafio, um dos pontos focais da empresa é tentar criar mecanismos de facilitação de escolha para você através de I.A. e machine learning.

Em “O paradoxo da escolha”, o psicólogo Barry Schwartz mostra que quanto mais opções, menos escolhemos: se cada escolha é uma renúncia, o nosso cérebro prefere não escolher uma coisa a abrir mão de tantas outras.

O PARADOXO NETFLIX

A Netflix é uma indústria. Ela não é um estúdio, uma produtora, uma sala de cinema ou uma distribuidora de filmes: ela é tudo isso. E de todos os filmes. De todas as séries. De todos os gêneros. Cada vez mais o intuito do seu modelo de negócios é o de ter mais e mais acervo próprio. Originais custam caro, não tê-los custa mais caro ainda – ou implica na irrelevância da marca.

Como resolver a equação deste que é o desafio de uma das empresas mais conhecidas do mundo: e também uma das mais endividadas?

A principal proposta de valor no modelo de negócios Netflix é a NOVIDADE. Quando uma empresa abraça essa proposta ela sabe que o valor para o consumidor não será dos mais baixos. Novidade custa caro. Como resolver se você precisa escalar? É o que estamos todos esperando aprender com a Netflix.

Se conseguir escala com a proposta “novidade” é caro, a Netflix busca uma alternativa: a automação. Com uma imensa base de inteligência artificial que mais do que conseguir dados estatísticos é capaz de monitorar comportamentos e gostos de uma infinidade de pessoas, seria muita inocência acreditar que a empresa não usaria a seu favor. O problema é que está usando de forma errada e aparentemente criando conteúdo a partir de uma composição de dados apenas para responder a anseios da big data – e o resultado são produções plásticas, enlatadas e, muitas vezes, sem a menor capacidade de encantar.

A MARCA DE UM TEMPO

Mais do que uma empresa e/ou uma indústria, a Netflix é inegavelmente uma revolução, uma das maiores disrupções de seu tempo.

É a empresa que garantiu ACESSO a basicamente o planeta todo a entretenimento amplo e variado, e que conseguiu ao mesmo tempo estabelecer uma conexão sublime com seu consumidor a tal ponto que o fez obrigar toda a cadeia da indústria de entretenimento EM

TODOS OS NÍVEIS a se reinventar. A Netflix não incomodou a concorrência, ela transformou todo o mercado.

Dizem que uma boa marca é aquela que cai no jargão popular: “netflix and chill” é um termo atual frequentemente utilizado nos EUA para “sutilmente” convidar alguém para sua casa, assistir um filme, relaxar e… quem sabe um pouco mais. Quer mais presença de mercado que isso?

UMA GIGANTE ADORMECIDA

Aparentemente a Netflix passou a aprender de forma muito tímida e tardia a utilizar seu potencial de marca para rentabilizar de outras formas que não apenas com o seu corebusiness. A Netflix é a 26ª marca mais valiosa do mundo em 2020 – e vem em uma crescente, pois em 2019 estava em 36º lugar no ranking da Forbes. É claro que a quarentena deu mais protagonismo ao modelo de negócios do streaming, porém somente recentemente a Netflix resolveu apostar

no mercado de games (por exemplo) e ainda pouco enxerga o potencial de fanzines, gadgets,

parcerias e tudo mais.

Variar as fontes de receita é uma premissa do sucesso, e uma obrigação de quem atingiu potencial de marca suficiente para isso: hoje, a Netflix poderia tranquilamente vender (quase) tudo aquilo que bem entendesse.

O PIONEIRISMO QUE PODE SALVAR DA SATURAÇÃO

São dezenas de canais de streaming no mercado hoje. Você pode ter um ou vários, mas dificilmente você adquire algum antes de assinar a Netflix. Isso acontece pois damos prioridade à marca líder quando a comparação é difícil – como quando vamos escolher um médico ou um advogado. Ouvimos outras pessoas, questionamos os clientes, mas no fim, se podemos pagar, sempre vamos optar por aquele que é o mais famoso e reconhecido.

Marty Neumeier, um dos maiores pensadores de marcas da atualidade, costuma dizer: não é o prmeiro que chega no mercado, é o primeiro que entra na mente do consumidor. A Netflix é as duas coisas.

Quer você goste ou não, quer você assine ou assista escondido na conta de alguém, o que você não pode negar é que a Netflix é uma das grandes ideias que revolucionaram o nosso século. Pode até mesmo fechar as portas amanhã que será amplamente estudada por muitos anos no futuro. O nome desse sucesso é a construção da disrupção através da percepção da dor, não da solução. Se Reed Hastings e Marc Randolph tivessem prestado atenção somente na solução que tinham e não na dor a que serviam, teriam criado apenas um sistema próprio de delivery de VHS em suas locadoras.

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