Já faz algum tempo, a faixa etária dos CEOS e empreendedores em um geral, vem diminuindo drasticamente.
No Brasil, a mais recente edição do GEM — Global Entrepreneurship Monitor — mostra que 52,5% dos empreendedores estão na faixa entre 18 e 34 anos, segundo a PEGN.
A evasão do mundo acadêmico (que possui tempos de maturação extremamente mais longos que o mundo do mercado) e a facilidade da exploração do empreendedorismo digital são grandes fatores que podem corroborar com esse panorama.
Em um mundo onde as telas e ícones são cada vez mais minúsculas, e os vovôs se desesperam pra pedir ajuda pra imprimir um documento (pois vovôs ainda imprimem), o digital está sim nas mãos dos mais novos, o que significa que a tecnologia, o trunfo e mecânica de funcionamento do saber humano atual não está, pela primeira vez na história da nossa espécie, nas mãos dos mais velhos.
O foco aqui, no entanto, é outro. Na verdade, quero falar sobre um dos resultados disso:
Quando foi que infantilizamos tanto a administração, os negócios, a comunicação?
Muito além das tentativas de gameficação geral das coisas dos anos 2000, de flocodenevização absoluta da comunicação nos 2010 e de ludificação de tudo até a presente data, a gente chegou no ponto de ruptura total com qualquer coisa menos “brincalhona” (por assim dizer), a partir do momento que aceitou que a única comunicação possível é a tiktóktica.
Lembro de quando eu trabalhava em agências tradicionais, agências de publicidade, e cheguei a pegar o tempo onde o auge da satisfação de patrões e funcionários era uma mesa de bilhar no meio da agência. Ou uma bateria (instrumentos em geral), pebolim?
Lembro do trabalho até 23h onde a gente se sentia feliz porque tinha pizza às custas do patrão.
Casual fridays.
Enfim, isso tudo foi evoluindo a ponto de a criatividade ser entendida como método de idiotificação.
E aí passamos pela era dos absurdos, nonsenses chamativos, chistes engraçadoides, etc.
Mas nada, absolutamente nada se compara ao que acontece agora: as pessoas não conseguem ser felizes se não forem crianças novamente.
Desde quando a cultura de massa começou desesperadamente a criar wormholes com os anos 80 e começo dos 90, a geração da vez viveu o boom da busca por referências de infância. “Ah lá, isso é de Goonies! Eu vi, eu lembro, eu tava lá!”.
Veja bem, não estou falando (DE MODO ALGUM) que devemos dar uma guinada a um adulting forçado e reviver a neura da geração yuppie em todo escritório que se preze. O mundo simplesmente não tem cocaína suficiente pra isso.
Pode ser sim, que a próxima geração se torne “yupster”, como a millennial se tornou hipster, muito embora a primeira leva de yupsters tenha sido um leve sopro no Nova Iorque de 2015, mas o que temos hoje é a plenitude da infantilização da empreendosfera, do businessverso.
Culpa somente das marcas?
Não.
A gente QUER isso. A gente ainda quer ver o CEO falando “me diiiz seu nome? Sua idade? Põe sua roupa preferidafazumadancinha”.
Embora as pessoas queiram empreender pra usar chinelo e sair andando como um Winderson Nunes por aí, ao que todos apontam e dizem “tá vendo que exêntrico? Milionário e não liga pra nada dessas frescuras!”, a escola valesiliciana de negócios ensinou que TEM QUE ser legalzão. TEM QUE ser engraçadinho, TEM QUE fazer dancinha. TEM QUE ter tobogã no escritório.
Porém, embora o texto tenha esse tom totalmente crítico, ele só tem a intenção de provocar com a seguinte pergunta: até quando?
Até quando isso vai colar?
Sim, pois ainda cola sim, mas repito a questão:
Até quando a síndrome de Peter Pan vai ser a fina flor da nata empreendedora? E, talvez mais importante, é necessário que nos infantilizemos para que sejamos legais e interessantes ou isso é só uma forma que encontramos de conseguir válvulas de escape pra depressão que a precocidade em dominar o mundo nos causou?
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