Entenda como cada vez mais confiar em “gênios” pode atrapalhar os seus resultados
viso: este artigo não é para gênios, aqui não acreditamos em gênios.
Não é difícil que no mundo da comunicação num geral (onde insistem querer encaixar todo o conceito da marca), habitem gênio, os grandes publicitários, os grandes nomes das agências, as pessoas que dependem de suas “eurecas” pessoais para resolver o mundo e o marketing, não necessariamente neste mesma ordem.
Digo por experiência própria: eu fui o gênio em diversos lugares onde trabalhei.
Não, eu não sou nenhum tipo de gênio no sentido que você deve estar pensando e nem lhe concedo três pedidos; eu era só o gênio dos lugares onde trabalhei, e era mesmo, todo mundo aguardava minha luz divina para elucidar as campanhas. Eu amarrava o departamento de criação inteiro à minhas ideias tão geniais.
Eu era o empirismo em pessoa, e todos me enxergavam como o grande salvador.
As coisas que criava, criava porque criava, porque tinha o toque divino da criação.
Tenho propriedade pra dizer: não seja esse cara. Hoje, se tem uma coisa que me incomoda, essa coisa é o gênio.
Acho que nada atrapalhou mais o caminhar da história do que esse tal de gênio, o arquétipo do gênio.
Aquela pessoa com um suposto DNA agraciado pela natureza que lhe faz capaz de ter as mais brilhantes ideias nos mais importantes momentos.
O “criativão” o cara das soluções, O cara.
Antes da revolução industrial até que dava pra compactuar com isso. Gênios eram plurais do saber até então: eram mestres do pensar, não do pensamento.
Eram os Da Vincis, os Sócrates da vida. Que saudade do que já vivemos.
Gênios multidisciplinares, abertos, coletivos – maravilhosos, mas ainda assim, perigosos.
Hoje é pior, os gênios fordistas, tecnicistas, esses tomaram conta do mundo, e empobreceram o pensamento como nunca.
Claro, ainda existem os gênios da necessidade, estes tão tipicamente brasileiros, que criam as mais fantásticas traquitanas e gambiarras para aprimorar (e muitas vezes salvar) o seu cotidiano.
Porém, o foco desta opinião é outro, é o cara das eurecas, o salvador, o grande gênio criativo que a gente encontra em todos os segmentos da sociedade, mas sobretudo no markting. O arquétipo atual do gênio não é moldado no árduo trabalho de Da Vinci, mas sim na paranóia incompreensível de algum rockstar folgado do anos 70 misturada com a fissura workaholic de algum yuppie oitentista.
O gênio, sobretudo, é um frustrado. E aí a gente vê empresas e instituições inteiras focadas em apenas uma pessoa. O grande CEO, de onde todas as soluções provêm. Os Olivettos é Guanaes da vida.
Enfim, os gênios.
Ainda seguimos organizando o mundo ao redor de personalidades. Não há nada mais frágil e passageiro do que isso:
A empresa que depende de uma pessoa é uma péssima empresa. O país que depende de uma pessoa é um péssimo país.
Se você, pessoa, depende de outra pessoa, que tipo de pessoa você é? Pelo menos FELIZ eu tenho certeza que não, felicidade requer certo grau de independência.
Resumo: gênios atrapalham tudo. São um poço egóico de ócio puro. Tendem a concentrar as coisas em suas mãos e não permitirem opiniões diversas. Ao primeiro sinal delas, ou as atacam ou zombam. Em um geral, inibem todos os outros ao seu redor, pois existe a necessidade de que não permitam a mais ninguém um lugar de destaque.
Por serem levados a acreditar (por um séquito de puxa-sacos ávidos pela aprovação de seu ídolo) que já sabem tudo o que se precisa saber, ou que, se não sabem, a luz divina que possuem lhes guiará um caminho único e sólido, tendem a não fazer nada. Sentem-se incompreendidos, desmotivam-se o tempo todo, precisam de aplausos (por mais que insistam que não) e, uma vez que são os donos das ideias, esquivam-se automaticamente de sua execução.
Gênios são preguiçosos e acreditam que seu tempo vale mais do que o dos outros. Claro, é em seu tempo que as coisas serão solucionadas, não é mesmo?
Olha, gênios são um porre.
Mas as coisas mudaram.
Não vivemos no tempo dos gênios, é fato.
Pelo menos não do gênio carreira solo. Não quando se espera encontrar solução.
Deixemos a genialidade para os artistas, que em sua proposta máxima, estão aqui para solucionar nada, mas sim para questionar e confundir tudo. Aí sim!
É isso. Gênios não trazem solução. Não são feitos para isso.
A dose inata e absoluta de empirismo que move os gênios não condiz com a realidade matemática do mercado: é preciso agir sobre dados, pesquisas, planejamento e estratégias extremamente bem elaborados para que possam ser meticulosamente bem executados.
A própria natureza e o tempo da genialidade repelem qualquer tipo de metodologia embasada nestes dados: pra eles, tudo que não seja eles, é “boring”.
O negócio que está nas mãos de uma agência cheia de troféus tende a trazer excelentes resultados para esta agência cheia de troféus. Fim.
Por outro lado, não podemos esquecer, a genialidade coletiva, esta que está presente em todo ser humana, está também cada vez mais na moda, embora muitos gênios tendam a afirmar o contrário, ou a afundarem-se ainda mais na sua depressão clichê do “gênio incompreendido”.
Mas quer saber? Não tem problema, gênios sempre foram e sempre vão ser um porre mesmo.
Aqui na Imma acreditamos na genialidade do coletivo e na obrigatoriedade de método, pesquisa e estratégia para que ela aconteça. E só.
Abandone os criativos, dê boas vindas aos criadores.
E só.
Vamos lá?
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